Quando fui diagnosticado com a doença de Crohn há 7 anos atrás lembro que a primeira coisa que ouvi da médica foi que a doença inflamatária intestinal não tem cura mas dá pra controlar com medicamentos. Confesso que isso me deixou aliviado pois não conhecia nada sobre a doença.

No início do tratamento eu passei a tomar mesalazina, azatioprina e humira, e segui com eles por 4 anos. Eu nunca sofri com efeitos colaterais e me acostumei com a rotina de toma-los, além disso não conhecia ninguém que vivia com a doença sem medicamentos e estivesse bem.

Claro que eu me preocupava em depender dos remédios pelo resto da minha vida, por um tempo procurei por tratamentos mais naturais, como auto-hemoterapia e a cannabis, mas meu médico disse que meus remédios me faziam bem e isso que importa, que eu não devia ficar procurando alternativas.

Como fiquei sem medicamentos

Em 2019 eu fui fazer intercâmbio na Irlanda, planejei minha viagem por 2 anos, fiz um estoque de medicamentos e pretendia dar entrada no programa que me permitiria pegar os remédios em Dublin e continuar meu tratamento por lá.

Porém as coisas não sairam como planejadas. Eu não tinha dinheiro pra passar no médico particular e pegar a receita dos remédios, estava bem da doença e vivia ocupado com trabalho e estudos.

Depois de 4 meses, no meio do meu intercâmbio, meus remédios estavam acabando mas eu já estava decidindo voltar pro Brasil, e passei a aumentar o intervalo entre meus remédios para durar até o fim. A humira acabou e fiquei só com mesalazina e azatiopriona. Mas continuei bem, com alguns sintomas de vez em quando.

Voltei pro Brasil em Dezembro de 2019. Quando ia passar com meu médico e pegar os remédios no alto custo, a pandemia do coronavírus começou. Isso fez com que minhas consultas fossem suspensas, a mesalazina e azatioprina que eu ainda tinha perderam a validade e eu fiquei sem tomar nenhum.

Como me senti sem medicamentos

Estava com medo de voltar a ter uma crise, porém, não tive os sintomas da doença. A única coisa que me incomodava era uma fistula anal que tenho por causa da doença de Crohn há anos. Eu não me sentia disposto a fazer exercícios, caminhar, sair de casa, algo que me fazia muito bem durante o isolamento.

Nesse meio tempo passei com uma nutricionista que montou uma alimentação melhor pra mim e especialmente pra evitar alimentos que causam inflamação, que eu já comentei nesse post. Isso me fez muito bem e minha fistula deixou de me incomodar na maior parte do tempo.

Mas eu estava me sentindo culpado por abandonar meu tratamento sem meu médico saber, então consegui marcar uma consulta com ele, contei como estava bem e sem remédio, ele me pediu pra fazer uma colonoscopia, que deu que meu intestino estava sem inflamação e cicatrizado. A doença estava controlada. Me senti muito feliz e aliviado com esse resultado, pois não sabia que era possível.

Como estou hoje

Há 4 meses eu decidi adotar um pug filhote, ele é a coisa mais linda. Na primeira semana ele teve diarréia, fui fazer um exame e deu positivo pra giárdia. Se você não sabe, giárdia é um parasita que afeta o intestino, que causa diarréia, vomito, perda de sangue e muco, é muito contagiosa, incluindo para humanos.

Meu pug bruce Meu pug Bruce.

Se você percebeu, os sintomas da giárdia são bem parecidos com os da doença de Crohn. Tempo depois eu comecei a sentir um desforto e perder muco quando ia no banheiro. Não sabia se era da doença ou da giárdia. Cheguei a tomar um vermífugo mas continuo com os sintomas até hoje (Assim como meu pug, depois de uns 6 tratamentos diferentes).

Eu também comecei a passar com um médico particular pra ver a minha fistula e a possibilidade de cirurgia. Apesar de estar bem agora, com alguns sintomas, apenas por ter uma fistula, eu deveria ao menos tomar um remédio biológico para controla-la.

Então o médico me passou os papeis do alto custo pra eu voltar a pegar e tomar os remédios no futuro. Eu aceitaria porque não gostaria de continuar correndo o risco, sem medicamentos, sem consultas, por minha própria sorte. Mas fico feliz em saber que é possível viver bem sem os medicamentos, que a doença não é uma sentença.